15/11/2016

O cego de Jericó e a cega multidão hodierna

Por Israel C. S. Rocha

E aconteceu que, chegando ele perto de Jericó, estava um cego assentado junto do caminho, mendigando (Lucas 19:35).

Esta passagem traz profundos ensinos e exortações espirituais. De muitas formas somos como este cego mendicante. E de muitas formas nos comportamos como a multidão que o censurou. Nela somos ensinados a buscar a misericórdia de Deus a despeito da multidão.

Então, clamou dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse (...). (Lucas 19:38-39a)

Aquele cego foi censurado pela multidão de passantes para não incomodar o mestre. Que postura assimetricamente oposta aos ensinos de Jesus:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mateus 11:28)

A turba de insensatos, ao invés de levar aquele homem a Cristo, o repreendeu. Exatamente como acontece em nossa caminhada cristã: somos desanimados pela multidão dos pretensos seguidores de Cristo mas, que em nada são como o mestre. Seguem-no por interesse em milagres, status eclesiástico, poder, mas, se esquecem que Jesus não confia neles. (João 2:24)

Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia. (João 2:24)

O mesmo Jesus que proferiu esta chocante advertência:

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. (Mateus 7:22-23)

A verdade espiritual contida nesta passagem é que existe uma multidão que segue a Jesus, que frequenta os cultos, que canta nos corais, que frequenta a escola bíblica e que até mesmo ministra sermões mas, não tem parte com Cristo. Eis a grande diferença entre os seguidores e os discípulos: os seguidores buscam as bênçãos e seus próprios interesses; os discípulos buscam a Deus ainda que com o sacrifício da própria vida, tal como Jesus ensinou:

Em seguida, convocou Jesus a multidão e os discípulos, e os desafiou: Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e venha após mim. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo Evangelho salva-la-á! (Marcos 8:34-35)

Os discípulos levam pessoas a Cristo, os falsos seguidores afastam aqueles que possam desviar a atenção do mestre para outros problemas que não os seus. Estão na casa de Deus para atrapalhar os que são de Deus. Criam alvoroços, intrigas, contendas, repreendem e censuram as ovelhas para que desanimem e desistam. Como há pessoas assim nas igrejas, que ao invés de se alegrar com a cura do cego, murmuram. São o joio semeado pelo Diabo:

O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio representa os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o Diabo. A colheita é o final desta era, e os ceifeiros são os anjos. (Mateus 13:38)

Não fosse o Espírito desanimaríamos da fé, mas somos impulsionados a continuar clamando até alcançar a graça de Deus, tal como aquele cego de Jericó que fora repreendido pela multidão:

mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Lucas 18:39b)

Como isto afronta as pseudo-teologias que vemos por aí! O cego de Jericó não desafiou a Jesus dizendo "Se tu és o Filho de Deus, cura-me!". O cego de Jericó não determinou, não fez confissão positiva, nem proferiu palavra profética, ele tão somente clamou pela misericórdia do Filho de Deus.

Quantos hoje se julgam no direito de manietar Deus e o obrigar a fazer suas vontades por meio da fé. Fé cega de um televangelho cego e anticristão. Como se a Vontade Soberana de Deus pudesse ser manipulada pela turba mimada e desconhecedora da Bíblia que "segue" a Cristo hoje. Uma turba amorfa que passa anos a fio na igreja e não cresce, continuam "meninos inconstantes, levados por todo vento de doutrina".

Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (Efésios 4:14,15)

Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

Então, Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja.

O Todo-Poderoso Deus ouve nossas súplicas, nossos rogos, nosso clamor e atende nossas petições quando partem de um genuíno filho de Deus. Jesus parou o que estava fazendo e mandou que trouxessem o cego. Quão maravilhoso é quando nossa oração chega à Cristo e quando chega a hora de sermos livres de nossa aflição. Ali estava um filho de Deus que era cego e que precisava conhecer Jesus Cristo. Mas ainda que cego e sem conhecê-lo, tinha a fé de que podia ser curado, podia e seria, se tão somente alcançasse a misericórdia de Deus, o favor de Deus. Sabia ele, como todo filho de Deus, que jamais poderia exigir-Lhe nada, pois nada é.

Nossa sociedade anarquizada se esqueceu de um princípio básico que ainda existe na vida em caserna: hierarquia e disciplina. Soa inconcebível um soldado exigir algo de um general e deveria soar ainda mais inadmissível o homem exigir do Todo-Poderoso Eu Sou. A fé é a certeza de que Deus pode fazer o impossível, mas, ela não O obriga a fazê-lo! Quando Nabucodonosor construiu a estátua para que todos se prostrassem sob pena de morte; Sadraque, Mesaque e Abednego, não se curvaram e nos deram grande ensinamento quando instados pelo rei:

Eis que o nosso Deus a quem nós servimos PODE nos livrar da fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará da tua mão, ó rei. Mas se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste. (Daniel 3:17,18 - grifo do autor)
Nabucodonosor contemplando
Sadraque, Mesaque, Abednego
e o quarto Homem na fornalha.

Eles sabiam que Deus os poderia livrar das mãos de Nabucodonosor, mas o "se não" nos ensina que nossa fé não pode manietar e obrigar Deus a fazer nossa vontade. Se fosse da vontade do Senhor tê-los como mártires, os 3 teriam morrido naquela fornalha, mas, pela misericórdia de Deus, foram poupados para confusão do rei, o qual além dos três ainda via um quarto Homem passeando no meio do fogo (Daniel 3).

E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé de salvou. E logo viu e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isso, dava louvores a Deus. (Lucas 18:43)

Jesus curou aquele cego e o salvou por sua fé. Seus olhos foram abertos e passou a ver. Exatamente quando nós quando, pela fé, somos redimidos e passamos a enxergar a vida pecaminosa que levamos até sermos libertos. O cego passou a seguir Jesus glorificando a Deus, ao passo que muitos O deixam assim que obtém a bênção que procuram, e seguia-o de uma forma peculiar: glorificando a Deus e não envergonhando Seu Nome como muitos fazem.

Esta passagem nos faz entender que tudo deve ser para a Glória de Deus. Aquele homem nasceu cego para que a glória do Senhor fosse manifesta e Seu Santo Nome fosse glorificado. Então, deixemos em nome de Jesus, os ventos de doutrinas, as heresias que infestam como moscas as igrejas, e voltemos ao evangelho do clamor, da súplica, da santificação, da glorificação do nome de Jesus acima de nossa vontade.

À Jesus toda honra e toda Glória. Amém!