31/10/2015

A Perseguição Vindoura (Jeremy James)

Quanto sofrimento e perseguição suportarão
os cristãos antes da Tribulação?

Esta pergunta talvez seja a mais desagradável que possamos fazer. Ela se estende sobre todos os que amamos e afeta todos os aspectos de nossas vidas. Ela ameaça derrubar e dilacerar tudo o que nos esforçamos para conquistar. E expõe nossa fé ao mais exigente teste que podemos imaginar.

Vejamos o que aconteceu aos cristãos em épocas anteriores. Quase todos os que vieram a Cristo durante ou logo após a era apostólica foram perseguidos de uma forma ou outra. Seus parentes pagãos os rejeitaram, eram com frequência expulsos de sua comunidade e por vezes, tinham dificuldade de obter alimento. Eles também estiveram sujeitos, em muitos lugares a perseguição pelo Estado e pressionados a negar sua fé cristã. Aqueles que se recusavam eram brutalmente tratados e até mesmo mortos.

Houve uma curta pausa na época em que o imperador Constantino adotou o cristianismo como religião oficial do império. No entanto, muitos que professavam ser cristãos nesta época o eram apenas no nome, tendo simplesmente escolhido as falsas doutrinas da Igreja Católica Romana, que estava então em formação.

Quando os muçulmanos começaram sua campanha de terror no Norte da África e Oriente Médio, eles deram aos cristãos uma difícil escolha: converter ao Islã ou morrer. A maioria escolheu a morte e morreram como mártires. Cerca de metade dos cristãos no mundo naquela época foram assassinados pelos muçulmanos.

Os cristãos foram cruelmente explorados sob o jugo tirânico do feudalismo por vários séculos, servindo como servos à elite dominante ou escravizados pela alta carga de impostos. Muitas vezes alistados como forma de punição em exércitos locais para lutar suas guerras fúteis. As condições de vida beiravam quase sempre a subsistência e a expectativa de vida era menos de metade do que é hoje.

Como Roma cresceu em poder, ela instituiu três programas de destruição e convulsão social. O primeiro foram as Cruzadas, que levou à morte, mutilação ou ao empobrecimento de milhões de cristãos em toda a Europa. Em seguida veio a Inquisição, que funcionou por várias centenas de anos e causou a morte por execução de centenas de milhares de cristãos inocentes, assim como a tortura ou prisão de milhões mais, o roubo de suas propriedades e a destituição de suas famílias.

Então veio a brutal campanha de repressão conhecida como Contra-Reforma, onde os cristãos crentes na Bíblia cristãos foram caçados e sistematicamente assassinados em praticamente todas as partes da Europa. O clímax foi atingido com a anarquia generalizada e a terrível carnificina ocorrida na Guerra dos Trinta Anos, 1618-1648. Milhões morreram de fome e doenças em longos bloqueios e cercos, ataques brutais a cidades e aldeias indefesas e pelas atrocidades cometidas pelos ferozes exércitos e sádicos mercenários empregados por Roma e seus aliados para destruir a Reforma.

Detalhe de uma pintura por Sebastian Vrancx e Jan Brueghel da Guerra dos Trinta Anos

Está claro por este breve resumo que por 1600 anos ou mais cristãos crentes na Bíblia tiveram uma difícil e perigosa existência. A abertura dos Estados Unidos no final do século XVII trouxe um certo alívio. Pela primeira vez na história eles puderam praticar sua religião em grande número, terem seus próprios bens, estudar a Bíblia, evangelizar e deslocarem-se livremente de um lugar para outro sem medo, assédios e perseguições.

Roma odeia os Estados Unidos, uma vez que é a única região na terra que continuou a desafiar a sua influência. As primeiras gerações de cristãos a popular a América do Norte foram imensamente gratos a este presente dado pelo SENHOR. Mas na medida em que seus descendentes prosperavam, perderam o inimigo de vista. Roma nunca se esqueceu deles; simplesmente mudou de estratégia a qual funcionou muito bem.

Nos últimos cem anos ou mais os americanos têm sido atraídos para uma versão do Cristianismo que não tem poder para salvar. Como resultado, a grande maioria dos professos cristãos nos EUA estão sob a ilusão de que o mundo lhes deves uma vida tranquila ou, pelo menos uma existência segura e previsível. Eles nunca conheceram perseguição ou opressão religiosa e têm pouca compreensão de que, por 1.600 anos ou mais, uma sombra tinha sido lançada sobre a vida de quase todos os crentes. Poucos leram ou mesmo ouviram falar do Livro dos Mártires de John Foxe. Poucos reconhecem que as liberdades e os benefícios que desfrutam hoje foram conquistados através de sangue dos santos, um tesouro fabuloso que tem tem sido desde então esbanjado em infindáveis entretenimento e prazeres vazios.

O Espelho do SENHOR

No início deste ano o Senhor ergueu um espelho para o povo da América. Ele mostrou-lhes dois reflexos horrendos: Planned Parenthood (Paternidade Planejada) e Ashley Madison (site de encontros adúlteros). Estas organizações pecaminosas foram apoiadas financeiramente por milhões de americanos "comuns" e toleradas pelo resto da sociedade. Poucas igrejas cristãs os condenaram, e menos ainda o fizeram de forma consistente. Uma igreja que não toma posição em nada, não serve para nada, e uma igreja que não representa nada não permanecerá por muito tempo.

Muitos cristãos na América, em 1900, reconheceram que esta crise tinha surgido em sua geração. O mais zeloso entre eles reuniu forças para defender a verdadeira doutrina cristã e produziu o livro "Os Fundamentos" (The Fundamentals). Mas as gerações seguintes sucumbiram ao sussurro tranquilizante do ecumenismo, inclusão e diálogo inter-fé. Por volta de 1960 uma degradação fatal tinha se instalado e o colapso final da igreja que crê na Bíblia estava quase garantido.

Hoje nós chegamos nessa conjuntura, onde o Inimigo pode praticamente desferir o derradeiro golpe a qualquer momento, um golpe tal que as estruturas institucionais dos Estados Unidos serão lançadas em desordem e confusão, onde a vida 'normal' deixará de existir e onde os cristãos de todos os estratos da sociedade poderão ser reunidos e realocados em campos de trabalhos forçados.

Isto pode parecer impensável. Infelizmente, os cristãos de hoje vagam tão longe da Palavra de Deus que não mais conseguem entender a íntima ligação entre julgamento e misericórdia. Esperando infindável misericórdia em uma era de misericórdia, eles se esquecem que o pecado deve ser julgado e é grande o pecado daqueles que foram grandemente abençoados.

Babilônia

O poderoso império de Nabucodonosor e seus descendentes foi derrubado em uma noite. Sim, uma noite! Esta foi uma dinastia imperial que governou o mundo inteiro, que tinha vastos exércitos e riqueza incalculável, que possuía o melhor equipamento militar e todas as vantagens estratégicas. E, no entanto, foi totalmente derrubada em apenas uma noite.

A Queda da Babilônia por John Martin

Para entender onde estamos hoje, precisamos estudar a Palavra de Deus. Através dela o SENHOR revela Sua vontade e Seus caminhos. Através dela Ele responde às nossas mais profundas e desconcertantes perguntas. Ao abordar a questão apresentada no começo deste artigo, não posso fazer mais do que apontar para as respostas que eu encontrei na Palavra de Deus. Ao fazê-lo eu espero prover alguma direção no assunto o qual acredito que brevemente importunará quase todos os filhos de Deus em nosso mundo.

Por que os justos sofrem?

Sempre pareceu-me muito importante que o livro mais antigo da Bíblia, o Livro de Jó, lida com a mais dura possível questão: Por que os justos sofrem? Não somente Deus aborda esta questão em primeiro lugar, como O faz com extraordinário detalhamento. No final do livro, Jó finalmente começa a perceber que Deus supervisiona e autoriza todas as coisas por meio de Sua soberana vontade.

Há momentos em que nós compreendemos os Seus caminhos (ou parecemos compreender), mas também há momentos em que não temos nenhum entendimento do que Ele está fazendo em nossas vidas, ou porquê. Deus lida com a questão mais difícil em primeiro lugar, creio eu, por que precisamos ver todas as outras verdades presentes nas Escrituras através da lente de sua soberania absoluta. o Homem se rebelou em primeiro lugar, porque não aceitou completamente a soberania absoluta de Deus, nem a entendeu.

A Esposa de Jó

Muitos nos dias vindouros reagirão como esposa de Jó, opondo-se furiosamente à futilidade de tudo o que ela e seu marido tinham de suportar. "Amaldiçoe Deus e morra!" blasfemou ela (Jó 2:9). Sua natureza caída e rebelde é claramente materializada em palavras de grande amargura. Este versículo - este único registro - é tudo o que se precisa para reconhecer a situação desta mulher. Antes disto, ela havia feito uma mordaz e retórica pergunta retórica ao seu marido: "Ainda reténs a tua retidão?" - Ou seja: Por que raios você ainda confia em Deus?

A mulher de Jó

A Grande Desolação

Quando o profeta Habacuque viu a grande desolação que se abateria sobre a terra de Judá e seus habitantes, ele tremeu em si mesmo e disse: "podridão entrou nos meus ossos". Ele mal podia acreditar que algo tão terrível poderia acontecer ao seu povo, e ainda assim exclamou:

Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado;

Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. (Habacuque 3:17,18)

Em sua segunda carta a Timóteo, que Paulo escreveu de uma cela na prisão pouco antes de sua execução, o apóstolo lembrou seu amado pupilo - o primeiro pastor da cidade de Éfeso - de que:

todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. (2 Timóteo 3:12b)

Esta gritante realidade é mencionada várias vezes no Novo Testamento. Por exemplo, Lucas registra que Paulo e Barnabé pregaram que:

devemos por meio de muitas tribulações entrar no reino de Deus. (Atos 14:22).

O próprio Cristo disse:

Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós. (João 15:20)

Pedro foi além quando escreveu:

Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. (1 Pedro 2:21)

É difícil escapar à conclusão de que um cristão verdadeiramente nascido de novo deve esperar enfrentar dificuldades na vida, simplesmente porque ele é um cristão. Tais dificuldades podem até mesmo se transformar em perseguição deliberada. A história corrobora isto. Bem mais da metade dos cristãos que já viveram enfrentaram à sombra da perseguição.

Quando Cristo avaliou a conduta as Sete Igrejas em Apocalipse, as quais expressam coletivamente o caráter e a condição da igreja como um todo ao longo do tempo, Ele fez várias vezes referência à perseguição:

Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás.

Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Apocalipse 2:9,10)

Cristo também mencionou sete vezes nos capítulos 2 e 3: ao cristão que "vencer".

Muito provavelmente, muito disso causa estranheza de muitos crentes de hoje. Isto não é o que pastores ensinaram. Talvez o tenham, mas é o que Cristo ensinou.

A Perseguição Vindoura

Pelo que temos visto recentemente, está claro que cristãos que permanecerem fiéis à Palavra de Deus e que se recusem a ceder serão perseguidos em alguns anos. E mais, a perseguição pode não necessariamente começar apenas com multas e advertências policiais e se ampliar lentamente. Ao invés disso, ela pode vir de forma súbita e perturbadora e afetar um grande número de pessoas de uma só vez.

A grande tragédia é que a maioria dos crentes de hoje não estão preparados para isso. Seus professores da Bíblia nunca lhes ensinaram sobre a perversidade de Satanás, sua astúcia e crueldade. Eles mal conseguem acreditar que exista todo um exército de seres sobrenaturais que os odeiam com um ódio terrível demais para se descrever. Eles parecem não perceber que o inimigo quer destruir cada um deles, para apagar completamente qualquer vestígio do cristianismo da face da terra e substituí-lo por um perverso sistema de escravização moral, mental e física.

Para encerrar eu gostaria de chamar a atenção para quatro versículos do Salmo 60 que eu sinto encapsular muito do que temos discutido até aqui:

Ó Deus, tu nos rejeitaste, tu nos espalhaste, tu te indignaste; oh, volta-te para nós. Abalaste a terra, e a fendeste; sara as suas fendas, pois ela treme. Fizeste ver ao teu povo coisas árduas; fizeste-nos beber o vinho do atordoamento. Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade. (Selá.) (Salmos 60:1-4)

Quando o apóstolo Paulo fala da nossa esperança, ele não usa o sentido moderno desta palavra, isto é, algo desejável mas incerto. Pelo contrário, a esperança de cada crente verdadeiro é fundamentado em algo que é certo de que vai acontecer! Devemos viver diariamente na certeza de que tudo o que Cristo predisse irá acontecer. Mesmo se todas as nossas esperanças terrenas forem destruídas, esta certeza gloriosa e imutável certeza permanecerá.

Aqueles que são fortes serão chamados para animar, confortar e encorajar os aflitos ou debilitados por estes eventos vindouros. A força deles, que parecerá por vezes milagrosa, virá unicamente da raiz e fundamento da esperança, que é o próprio Cristo.

Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras. (Salmos 145:17)

The Coming Persecution, Jeremy James, 7 de Setembro de 2015

Traduzido por Israel C. S. Rocha