Por Charles Haddon Spurgeon. Portal Projeto Spurgeon.
Sermão pregado na manhã de Domingo 27 de Junho de 1858 no Music Hall, Royal Surrey Garden, Londres.
E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. (Atos 26:14).
Quão maravilhosa é a complacência que levou o Salvador a fixar os olhos em um ser desprezível como Saulo! Entronizado nos altos céus, em meio às melodias eternas dos remidos e de todas as hostes angélicas, é estranho que o Salvador se inclinasse de Sua dignidade para falar com um perseguidor. Ocupado como está, tanto de dia como de noite, em argumentar a causa de Sua própria Igreja diante do trono de Seu Pai, unicamente a benignidade o levou, por assim dizer, a suspender Sua intercessão para falar pessoalmente com alguém que havia jurado ser Seu inimigo. E, que graça admirável moveu o coração do Salvador para buscar um homem como Saulo, que havia proferido ameaças contra Sua igreja!
Não havia Saulo colocado homens e mulheres em prisões? Não havia ele forçado os cristãos a blasfemarem o nome de Jesus em cada sinagoga? E agora o próprio Jesus intervém para que Saulo caia na razão! Ah, se tivesse sido uma faísca que voasse em sua pressa para alcançar o coração do homem, não nos surpreenderíamos. Oh! se os lábios franzidos do Salvador tivessem pronunciado uma maldição, não nos assombraríamos. Por acaso Ele mesmo não havia amaldiçoado em vida o perseguidor? Não havia dito: “Qualquer que fizer tropeçar uns destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que amarasse ao pescoço uma pedra de moinho, e que fosse lançado nas profundezas do mar”?
Mas, o homem que foi amaldiçoado com essas palavras, seria abençoado pelo mesmo que havia perseguido; e ainda que suas mãos estivessem manchadas com sangue, e levava a permissão em suas mãos para encerrar os outros nas prisões, e ainda que havia cuidado das roupas daqueles que apedrejaram Estevão, apesar de tudo isso, o Senhor, o Rei do céu, dignou-se de falar pessoalmente dos mais altos céus para levá-lo a sentir a necessidade de um Salvador, e para fazê-lo participante da fé preciosa.
Eu afirmo que esta é uma maravilhosa condescendência e uma graça incomparável. Mas, amados, quando recordamos o caráter do Salvador, não deveríamos ficar surpresos que Ele fez isso, pois fez coisas maiores. Acaso Ele não abandonou os tronos estrelados do céu, e desceu a terra para sofrer, sangrar e morrer? Quando penso no casebre de Belém, no cruel jardim do Getsêmani, e no mais vergonhoso Calvário, não me surpreende que o Salvador faça qualquer ato de graça ou condescendência. Havendo feito isto, o que poderia ser maior? Se Ele desceu do céu até a morada dos mortos e ressuscitou, que maior benevolência poderia realizar? Se Seu próprio trono permaneceu vazio, se Ele despojou-se de Sua própria coroa, se Sua Deidade devia ser revelada pela carne, e os esplendores de Sua Deidade foram vestidos com os trapos da humanidade, o que nos surpreende, pergunto, que Ele tenha consentido em falar com Saulo de Tarso, para atrair seu coração a Ele?
Amados, alguns de nós não estamos surpresos, tão pouco, pois ainda que não recebemos maior graça que o próprio Apóstolo, tão pouco temos recebido menor graça que ele. O Salvador não falou conosco do céu com uma voz audível, mas falou com uma voz que nossa consciência escutou. Não estávamos sedentos de sangue, pode até ser, contra os Seus filhos, mas havíamos cometido pecados atrozes e sombrios.
Contudo, Ele nos chamou. Não se contentou em cortejar-nos, nem nos ameaçar, nem se contentou em enviar Seus ministros para que nos dessem Sua palavra de advertência sobre nossos deveres, mas Ele mesmo quis vir até nós. E vocês e eu, amados, que temos experimentado esta graça, podemos dizer que foi um amor incomparável o que salvou Paulo, mas não um amor único; pois Ele também nos salvou, e nos tem feito participantes da mesma graça.
Hoje tenho a intenção de dirigir-me especialmente aqueles que “não têm temor” do Senhor Jesus Cristo, mas que ao contrário, se opõem a Ele. Estou muito seguro que não há ninguém aqui que chegue ao ponto de desejar reviver a velha perseguição da igreja. Não creio que há algum, independentemente de quanto possa odiar a religião, que deseje ver outra vez a fogueira de Smithfield, com sua pira consumindo os santos. Pode haver alguns que nos odeiam com igual intensidade, mas ainda assim, não daquela maneira; o sentido comum de nossa época se opõe a forca, a espada e o calabouço. Os filhos de Deus, pelo menos neste país, estão livres de qualquer perseguição política desse tipo; mas é altamente provável que haja algumas pessoas aqui presentes, que fazem todo o possível, e se esforçam ao máximo para provocar a ira do Senhor, opondo-se a Sua causa. Talvez vocês possam se reconhecer se eu descrever. Raras vezes vêm à casa de Deus; de fato sentem desprezo por todas as reuniões dos justos; tem um conceito que todos os santos são uns hipócritas, que todos que professam a fé são falsos, e não se envergonham de falar isso. No entanto, tem uma esposa, e essa esposa sente-se impressionada pelas vozes do ministério; ela adora a casa de Deus, e só Deus e seu coração sabem quanta dor e quanta agonia mental tem causado a ela. Quantas vezes têm zombado e feito piada com ela por causa de sua profissão de fé! Não podem negar que se tornou uma mulher melhor por sua fé; se veem obrigados a confessar que ainda que ela não possa acompanhá-los em todas as suas diversões e jogos, até onde é possível, é uma esposa amorosa e afetiva com eles. Se alguém pretendesse encontrar falhas, vocês defenderiam seu caráter com hombridade; mas odeiam sua religião e recentemente ameaçaram-na trancá-la em casa no dia de Domingo. Dizem que é impossível morarem juntos na mesma casa se ela visita a Casa de Deus. Eles também têm uma filha pequena; não se opuseram que a menina participasse da escola dominical, pois isso colocava ela fora de casa no dia de Domingo, para fumarem seu cachimbo; diziam que não queriam que seus filhos os molestassem, e portanto se alegravam de enviá-los para escola dominical; mas o coração dessa garotinha foi tocado, e não podem evitar comprovar que a religião de Cristo está em seu coração, e disso não gostam de modo algum. Amam a menina, mas dariam qualquer coisa para que essa menina não fosse o que é; fariam tudo para apagar qualquer faísca de religião nela.
Talvez posso descrevê-los com outro caso. Você é um patrão. Ocupa uma posição respeitável. Tem muitos homens sob seu cargo, e não pode suportar que algum deles faça uma profissão de religião. Outros patrões que você conhece têm dito a seus homens: “Faça como quiser, contanto que seja um bom servo, não me interessam suas convicções religiosas.” Mas, talvez, você seja o oposto; ainda que não mandasse embora alguém por causa de sua religião, de vez em quando faz de seu obreiro objeto de seu escárnio, e se descobre alguma pequena falha nele diz: “Ah! Isso é culpa da tua religião. Eu suponho que você aprendeu isso na Igreja”. E afliges a alma do pobre homem, enquanto ele se esforça o máximo possível para cumprir seus deveres para contigo.
Ou talvez você seja um jovem empregado de um armazém ou oficina, e um de seus colegas recentemente se entregou a religião, e se você o encontra orando de joelhos, como você se diverte com ele, não é certo? Você e outros amigos se juntam como uma matilha de cães atrás de uma pobre lebre, e sendo ele uma pessoa bem mais tímida, talvez não responda nada, ou se fala, as lágrimas correm pelos seus olhos, porque feriram seu espírito.
Agora, este é exatamente o mesmo espírito que acendeu as brasas de antigamente (fogueira de Smithfield). Que torturou o santo sobre a ponte do tormento. Que picou seu corpo e o enviou errante, vestido com peles de ovelhas e com peles de cabras. Se não descrevi com precisão seu caráter ainda, poderia fazê-lo antes de haver concluído. Desejo dirigir-me em particular à aqueles que, de palavra ou de obra ou de qualquer outra maneira, perseguem os filhos de Deus; ou se não gostam de uma palavra tão dura como “perseguir”, então que se ria deles, que se lhes oponham, e que se esforcem para pôr fim a boa obra que está se desenvolvendo em seus corações.
Em nome de Cristo, em primeiro lugar, vou lhes fazer a pergunta: “Saulo, Saulo, por que você me persegues?” Em segundo lugar, em nome de Cristo, vou repreendê-los: “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões;” e logo, se Deus abençoar o que é dito para comover os corações, pode ser que o Senhor lhes dê algumas palavras de consolo, como fez com o apóstolo Paulo, quando lhe disse: “Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.”
“Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”
I. Então, em primeiro lugar, vamos considerar a pergunta que Jesus fez a Saulo desde o Céu, tem sido feita para cada um de vocês hoje.
Primeiro, notem que pessoal foi à pergunta: “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”. Quando eu lhes prego, estou obrigado a dirigir-me a todos vocês como uma assembleia. Não é possível que eu, exceto em raras exceções, me dirija a alguém em particular, e que descreva seu caráter, ainda que debaixo da mão do Espírito, isso até pode acontecer às vezes; mas no geral, estou obrigado a descrever o caráter como um todo, e tratar com ele em grupo. Mas não sucede assim com nosso Senhor. Ele não disse do céu: “Saulo, por que a sinagoga me persegue? Por que os judeus odeiam minha religião?” Não. Foi mais pessoal que isso: “Saulo, Saulo, por que você me persegues?” Se houvesse sido feita em termos gerais, desviaria o coração do apóstolo; seria como uma flecha que não atingiu seu alvo, tocando apenas a pele do homem cujo coração queria acertar. Mas quando ouviu pessoalmente: “por que você está me perseguindo?” não havia forma de escapar-se dela. Peço ao Senhor que faça pessoalmente essa pergunta a alguns de vocês.
Há muitas pessoas aqui presentes que tem experimentado uma ministração pessoal em suas almas. Por acaso não recorda, querido irmão em Cristo, quando foi a primeira vez que seu coração se compungiu, quão pessoal foi o pregador? Eu o recordo muito bem. Parecia-me que eu era a única pessoa em toda a capela, como se uma parede negra me rodeasse e eu estivesse trancado ali com o pregador, algo semelhante aos prisioneiros na penitenciária, quando cada um se senta em um cubículo e não pode ver ninguém, mas somente o capelão. Eu pensei que tudo o que ele dizia era dirigido para mim; estava persuadido que alguém conhecia meu caráter, e o havia descrito ao pregador e lhe havia contado tudo, e que me havia escolhido pessoalmente. Vamos, pensei que havia fixado seus olhos em mim, e tenho razões para crer que assim o fez, mas, ainda assim, ele disse que não sabia nada de mim. Oh, que os homens ouvissem a palavra pregada, e que Deus os abençoasse de tal maneira enquanto eles ouvem, que eles sentissem que a palavra tem uma aplicação pessoal para seus corações.
Mas note novamente, o apóstolo havia recebido somente alguma informação sobre os perseguidos. Se lhe houvesse perguntado a quem perseguia, haveria respondido “alguns pobres pescadores, que estão proclamando um impostor. Tenho a determinação de repreendê-los. Por que, quem são eles? São os mais pobres do mundo. A própria escória e desperdício da sociedade. Se fossem príncipes ou reis, talvez permitissem conservar suas opiniões; mas estes pobres, miseráveis e ignorantes indivíduos, eu não sei por que eles ainda são autorizados a continuar com suas paixões. Devem ser perseguidos. Mas ainda, a maioria dos que estive perseguindo são mulheres: umas pobres criaturas ignorantes. Que direito tem essas pessoas de pôr seus critérios acima do juízo dos sacerdotes? Elas não tem direito para uma opinião própria, e por tanto é muito correto que eu os desvie de seus tolos erros.”
Mas vejam sob uma luz diferente a pergunta de Jesus. Ele não pergunta: “Saulo, Saulo, por que perseguistes a Estevão?” Ou, “por que está a ponto de encerrar na prisão as pessoas de Damasco?” Não. “Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo?” Alguma vez você já pensou sobre este assunto dessa nova luz? Vocês tem um pobre homem que lhes presta serviço, usando roupas humildes. Ele é “zé ninguém”. Poderiam rir dele. Não o saudariam, ou se o fizessem, não seriam obrigados a dar explicações, pois ele é um ninguém. Não se atreveriam rir assim de um duque ou de um conde. Cuidariam muito do seu comportamento se estivessem na companhia de gente nobre; mas devido este ser um homem pobre, se sentem com liberdade para rir de sua religião. Aquele indivíduo que se veste simples e humildemente é Jesus Cristo mesmo! Como o fizerem para um de Seus pequeninos, o têm feito a Ele. Se já lhes ocorreu alguma vez o pensamento de que quando riem de alguém, que não estão rindo dessa pessoa, mas sim de seu Senhor? Se você já pensou ou não, é uma grande verdade, que Jesus Cristo recebe todas as injúrias que são feitas a Seu povo, como se fossem feitas contra Ele mesmo.
Você não deixou sua esposa entrar em casa outra noite porque ela frequenta a casa de Deus, não é certo? Quando estava ali trancada fora, tremendo pelo ar frio da meia-noite, suplicando que a deixasse entrar, se teus olhos estivessem muito abertos, teriam visto o Senhor da vida e glória tremendo ali, e poderia te falar: “Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo?” E então teria compreendido que é um pecado muito mais grave do que você imaginou que era. Você riu da menina outro dia porque cantava um hino simples e evidentemente o cantava do fundo do coração. Você sabia – ou se não sabia, saiba agora – que você estava rindo de Cristo? Sabia que quando se divertia com ela, você estava zombando de seu Senhor, e que Jesus Cristo registrou esse riso em Seu grande livro, como uma ofensa feita à Sua pessoa? “Por que me persegues?” Se pudesse ver Cristo entronizado no céu, reinando ali nos esplendores de Sua majestade, riria DEle? Se pudesse vê-lo sentado em Seu grandioso trono vindo para julgar o mundo, você riria DEle? Oh, assim como todos os rios vão para o mar, assim todos as pessoas das igrejas que sofrem, correm para Cristo. Se as nuvens estão cheias de chuva, derramam-se sobre a terra; e se o coração do cristão está cheio de dores ele se inclina no peito de Jesus, Jesus é o grandioso depósito de todas as aflições de Seu povo, e quando você ri de Seu povo, ajuda a preencher esse depósito até a borda; e um dia explodirá na fúria de seu poder e as águas te levarão, e o fundamento de areia na qual sua casa está construída cederá, e logo, o que você fará quando estiver diante do rosto Daquele que você tem escarnecido, e cujo nome tem depreciado?
Vamos fazer a pergunta de outra perspectiva. Que é muito razoável, e requer uma resposta. “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”. “Saulo” o Mestre poderia ter dito, “o que eu fiz que te machucou? Quando Eu estavas na terra, disse alguma palavra contra teu caráter, estraguei sua reputação, feri sua pessoa, alguma vez te afligi, disse alguma palavra contra ti? Que dano te causei? Por que tem tanto rancor contra Mim? Se tivesse sido seu pior inimigo, e cuspido em tua face, não poderia estar mais zangado comigo do que agora. Mas, por que estarias irado com alguém que não te fez nenhum dano, que não tem te causado nenhum desgosto?” “Oh, por que me persegues? Talvez haja algo em meu caráter que mereça? Não fui puro, e santo, e diferente dos pecadores? Não andei fazendo o bem? Ressuscitei os mortos, sarei os leprosos. Dei de comer aos famintos. Vesti os desnudos. Por qual de todas estas obras me odeia? Por que me persegues?”
A pergunta está igualmente dirigida a você no dia de hoje. Ah, homem, por que persegue a Cristo? Ele te faz a pergunta. Que mal lhes tem feito? Cristo o despojou alguma vez, o roubou, te feriu de alguma maneira? Será que Seu evangelho o deixou desamparado, de algum modo, sem o conforto da vida ou lhe causou algum dano? Você não ousaria dizer isso. Se fosse o mormonismo de Joseph Smith, não me surpreenderia que o perseguisse, ainda que não tenha o direito de fazer isso. Se fosse um sistema imundo e lascivo que minasse os fundamentos da sociedade, poderia considerar o direito de persegui-lo. Mas, ensinou Cristo alguma vez a seus discípulos que o roubassem, que o enganassem, ou que lhe maldissessem?
Será que Sua doutrina não ensina precisamente o oposto, e eles não são os seus seguidores, quando são fiéis a seu Senhor e a eles mesmos, exatamente o contrário disso? Por que odiar um homem que não lhe fez mal algum? Por que odiar uma religião que não interfere contigo? Se você mesmo não segue a Cristo, em que o afeta se os outros seguem? Você diz que afeta sua família; mostra-me amigo. Tem afetado sua esposa? Por acaso ela o ama menos do que antes? Ou é menos obediente? Você não ousaria dizer isso. Tem afetado seu filho? Ele é menos reverente contigo porque agora teme a Deus? É menos amoroso com você porque ama a Seu Redentor mais do que ninguém? Como Cristo tem lhe causado algum dano? Ele tem lhes alimentado com as misericórdias de Sua providência. As roupas que o vestem hoje são o dom de Sua generosidade. Ele tem preservado o ar que vocês respiram e, vocês o maldizem por isso?
Não foi recentemente que um anjo vingador tomou o machado para cortar a figueira e Deus disse: “Corte-a, para que inutilize também a terra?” E veio Jesus e segurou o braço do anjo e disse: “Deixa-a, deixa-a ainda este ano, até que eu cave ao redor dela, e a salve. ”Ele salvou tua vida, e você O amaldiçoa por isso. Você blasfema contra Ele porque Ele salvou tua vida, e gasta sua respiração que é uma dádiva Dele, maldizendo o Deus que tem lhe dado o fôlego da vida. Não tem ideia de quantos perigos Cristo o guardou em Sua providência. Não poderia calcular as inumeráveis misericórdias que são derramadas em seu regaço a cada momento, mas você não vê. E, contudo, maldizes o Salvador por misericórdias infinitas, pela graça que tua iniquidade não poderia deter, por um amor que não pode ser vencido por injúrias. Por tudo isso você o maldiz? Quanta vã ingratidão! De verdade você tem odiado e perseguido ao Senhor, ainda que Ele tenha te amado, e não te acusou de nenhum dano.
Agora, permitam-me apresentar uma vez mais um quadro do Senhor, creio que nunca, nunca o perseguiriam outra vez, se só pudessem ver. Oh, se só vissem ao Senhor Jesus, lhe amariam. Se só conhecessem Seu valor, não poderiam odiá-lo! Ele foi mais belo que todos os filhos dos homens. A persuasão morava em Seus lábios, como se todas as abelhas da eloquência trouxessem seu mel ai, e fizessem de Sua boca um favo de mel. Ele falou e falou de tal maneira falou que se um leão pudesse escutá-lo, teria se deitado e lamberia Seus pés. Oh! Quão amável Ele foi em Sua ternura! Lembrem-se da Sua oração quando os pregos atravessavam suas mãos: “Pai, perdoa-os.” Ao longo de toda Sua vida nunca lhe ouviram dizer sequer uma palavra contra aqueles que o perseguiam. Ele foi insultado, mas não devolveu a injúria. Mesmo quando foi levado como ovelha ao matadouro, ficou calado diante de Seus tosquiadores, e não abriu Sua boca. Embora tenha sido mais belo que todos os filhos dos homens, tanto em Sua pessoa como em Seu caráter, no entanto, foi Varão de Dores. A aflição lavrou Seu rosto com seus mais profundos sulcos. Suas bochechas afundaram por causa de Sua agonia. Ele jejuava muitos dias, e sempre sofria de sede. Trabalhava arduamente de manhã até a noite: depois passava a noite inteira em oração; e logo se levantava de novo para trabalhar – e tudo isso sem receber recompensa – sem esperar ou obter alguma coisa de ninguém. Não tinha uma casa, nem abrigo, nem ouro, nem prata. “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas Ele, o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.
Ele foi um homem perseguido, levado por Seus inimigos de um lugar para outro, sem algum amigo para ajudá-lo. Oh, se o tivessem visto; se tivessem visto Sua beleza e Sua miséria unidas, se tivessem visto Sua amabilidade frente a crueldade de Seus inimigos, seus corações se derreteriam. Vocês teriam dito: “Não, Jesus, eu não posso te persegui-lo! Não, me ponho entre Ti e a luz queimante do Sol. Se não posso ser Seu discípulo, de todas as maneiras não serei Seu oponente. Se este manto pode lhe abrigar em Suas lutas no meio da noite, aqui está ele; e se este balde pode tirar água para Você, eu vou descer até o fundo do poço, e terás água suficiente; pois se não o amo, visto que Tu és tão pobre, tão triste, e tão bom, não posso te odiar. Não, não vou lhe perseguir!”. Embora ainda tenha a segurança de que, se vierem a Cristo, diriam isso, no entanto, vocês realmente O têm perseguido e seus discípulos, os membros de Seu corpo espiritual, e por tanto, lhes faço esta pergunta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Que Deus lhe ajude a responder essa pergunta, e a resposta será vergonha e embaraço.
"Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.”
II. Isso me leva ao segundo ponto: A REPREENSÃO CONTRA O OFENSOR. “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.” Há uma ilustração aqui. Há uma alusão ao aguilhão usado com os bois. Quando o boi é atrelado ao arado, se não se mover com a rapidez desejada, o lavrador lhe espeta com uma vara comprida que tem uma ponta de ferro. Muitas vezes, logo que o boi sente a aguilhada, em vez de continuar, ele dá coices tão fortes quanto é possível. Desfere coices contra o aguilhão, fazendo que o ferro se crave em sua própria pata. É claro que o lavrador que o guia mantém sua aguilhada no mesmo lugar, e quanto mais frequentemente o boi dá coice, mas se fere. Mas deve continuar. Está nas mãos do homem a missão de governar o boi e ele o fará. É a própria opção do animal de desferir coices quantas vezes quiser, mas não faz dano algum ao seu condutor, senão somente a si mesmo. Verão que há muita beleza nesta ilustração, se eu a esmiúço e lhes faço uma pergunta ou duas.
Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões, pois, em primeiro lugar, não cumpre seu propósito. Quando o boi desfere coices contra o aguilhão, é para mostrar ressentimento ao lavrador por tê-lo incitado a seguir adiante; mas ao invés de machucar o lavrador, fere a si mesmo. E você que tem perseguido a Cristo para deter o progresso de Seu Evangelho, deixe-me perguntar, tem sido bem sucedido nisso? Não, nem dez mil como você seriam capazes de deter o poderoso impulso das hostes espirituais dos eleitos de Deus. Se você pensa, oh homem, que pode deter o progresso da Igreja de Cristo, primeiro vá e pare as doces influências das Plêiades (estrelas visíveis na constelação de Touro), e ordene ao globo terrestre que pare e não gire ao redor das belas estrelas! Vá e pare diante dos ventos e ordene que cessem de ulular, e pare na ponta de algum precipício remoto e comande o mar revolto que retroceda quando a maré está indo em direção à costa; e quando tiver detido o universo, quando o sol, a lua e as estrelas tiverem obedecido a sua ordem, se o oceano lhe ouviu e obedeceu, então pode sair e deter o progresso onipotente da igreja de Cristo. Mas você poderá fazê-lo.
Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.
Mas, o que dirá o Onipotente? Nem sequer se levantará para combater seus oponentes.
Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará. Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.
Para a Igreja não importa todo o ruído do mundo. “Deus é nosso refugio e fortaleza, nosso socorro bem presente nas tribulações”. Por isso não temeremos, embora a terra trema e os montes afundem no coração do mar, embora estrondem as suas águas turbulentas e os montes sejam sacudidos pela sua fúria.
Ah, se nem os maiores exércitos prevaleceram, por acaso você pensa, oh homem insignificante, que em um combate corpo-a-corpo, será capaz de conquistar? Seu desejo pode ser suficientemente forte, mas esse desejo não se cumprirá nunca. Pode desejar ansiosamente, mas jamais logrará êxito. Mas mesmo considerando esta uma questão pessoal: você já obteve êxito alguma vez em deter a obra da graça no coração de alguém? Você riu de sua esposa para que ela renuncie sua profissão, mas se ela é realmente convertida, nunca rirá o suficiente para fazê-la desistir.
Talvez tenha tratado de aborrecer seu filho pequeno; mas se a graça está nesse garoto, eu desafio você e seu senhor diabo que afugentem essa graça. Ah, jovenzinho, você pode rir de seu companheiro de trabalho, mas ele te vencerá a longo prazo. Algumas vezes pode ficar envergonhado, mas não o fará mudar. Se ele fosse um hipócrita, faria isso, e não se teria uma grande perda, mas se ele é realmente um verdadeiro soldado de Cristo, pode suportar muito mais que os risos de um cabeça oca como você. Não deve nem por um momento se vangloriar supondo que ele terá medo. Ele terá que suportar um batismo de sofrimento maior que esse, e não se acovardará pela primeira chuva de tua pobre insensatez maliciosa e digna de compaixão.
Em relação a você, amigo comerciante, pode perseguir seu empregado, mas com certeza não o obrigará a ceder. Vamos, conheço um homem cujo chefe havia intentando arduamente obrigá-lo a que agisse contra sua consciência; mas ele disse: “não, senhor”. E o chefe pensou: “bem, ele é um servo muito valioso; mas vou obrigá-lo se puder.” Assim que o ameaçou dizendo que se não fizesse o que queria, iria despedi-lo do trabalho. O homem dependia desse trabalho, e não sabia o que faria para ganhar seu sustento diário. Mas respondeu de imediato com honestidade ao seu chefe: “senhor, eu não tenho nenhuma outra opção; lamentaria muito ter que deixá-lo, pois estou muito contente com você, mas se chegamos a esse ponto, senhor, prefiro morrer de fome que em vez de submeter minha consciência a qualquer pessoa.” O empregado se foi, e o chefe teve que sair correndo atrás dele para trazê-lo de volta. E o mesmo sucederá em cada caso. Basta que os cristãos sejam fiéis, e se sairão bem em qualquer situação. Dura coisa é dar coices contra eles, pois não pode lhes fazer dano. Eles vencerão, serão conquistadores por meio Daquele que os tem amado.
Mas há outra maneira de expressá-lo. Quando o boi desfere coices contra o aguilhão, não obtém nenhum bem com isso. Pode chutar o quanto queira, mas não se beneficiará com tal atitude. Se o boi para e começa a arrancar um pouco de erva, ou um pouco de feno, vamos, então seria sábio, talvez, ficar quieto, mas ficar quieto para receber socos e pontapés, simplesmente para que o ferro entre em sua carne, é algo bem mais insensato.
Agora eu te pergunto, qual é o ganho em se opor a Cristo? Suponha que você diz não gostar de religião. Que ganhará ao odiá-la? Eu te direi qual a sua recompensa. Ganhará esses olhos vermelhos com que amanhece às vezes na segunda de manhã, após a bebedeira na noite de domingo. Direi sua retribuição, meu jovem. Você ganhou essa constituição quebrada, que, ainda que agora tenha te orientado aos caminhos da virtude, permanecerá contigo até o caixão. Qual é o seu ganho? Vamos, alguns de vocês que poderiam ter sido membros respeitáveis da sociedade, mas que agora possuem esse chapéu gasto, esse velho terno esfarrapado e essa descuidada expressão de bêbado, e esse caráter que você gostaria de abandonar e despojar-se, pois não lhe traz benefício algum. Isso é tudo o que você tem ganhado se opondo a Cristo.
O que você tem ganhado se opondo a Ele? Pois, bem, uma casa sem móveis, porque por sua embriaguez teve que vender tudo de valor que possuía. Seus filhos vestem trapos, e sua esposa vive na miséria, e sua filha maior, talvez, se entregou a vergonha, e teu filho se levanta para maldizer o Salvador, exatamente como você tem feito. Qual é o prêmio de se opor a Cristo? Qual é o homem no mundo que alguma vez obteve recompensa por se opor a Ele? Há uma grande perda experimentada, quanto a algum lucro, não existe nada parecido com isso.
Mas você afirma que, ainda que tenha se oposto a Cristo, todavia é alguém moral. Outra vez lhe pergunto: Tem ganhado algo, ainda assim, por se opor a Cristo? Acha que a sua família é mais feliz por isso? Tem lhe feito um pouco mais feliz? Sente que depois de rir de sua esposa, ou seu filho, ou de seu empregado, pode dormir mais tranquilamente? Considera que isso será algo que aquietará sua consciência quando se aproxime a hora da sua morte? Lembre-se que morrerás, e, pensas que quando estiver agonizando, fizeste o melhor que pode para destruir as almas das outras pessoas lhe proporcionará algum consolo? Não, deves confessar que é um pobre neste jogo. Você não está se beneficiando com isso, mas está prejudicando a si próprio. Ah, beberrão, continue com sua bebedeira, e lembre-se que cada episódio alcoólico deixa para trás de você uma praga, a qual um dia terá que ressentir. É prazeroso pecar hoje, mas não será prazeroso perder a colheita amanhã; as sementes do pecado são doces quando as semeamos, mas o fruto é aterrorizantemente amargo quando o armazenamos no final. O vinho do pecado tem sabor doce quando bebemos, mas é fel e vinagre nas entranhas. Tenham cuidado, vocês que odeiam a Cristo e se opõem ao Seu Evangelho, pois tão certamente como o Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus, e Sua religião é verdadeira, vocês estão empilhando sobre vossas cabeças uma carga de males, em vez de obter algum bem. “Saulo, Saulo, por que tu me persegues, Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”.
Mas independentemente dos coices que desfere, o boi tem que seguir adiante. Temos visto um cavalo que se encontra quieto na rua, e o condutor, que não tinha muita paciência, tem lhe batido tanto, que nos perguntamos como o pobre cavalo pode permanecer quieto debaixo de tal chuva de golpes; mas observamos que no fim, o cavalo é obrigado a continuar, e nos perguntamos: o que ganhou ficando parado? O mesmo sucede com vocês. Se o Senhor quer converter-lhe em um cristão, pode até dar coices contra o cristianismo, Ele o terá finalmente. Se Jesus Cristo quer sua salvação, pode maldizê-lo, mas Ele fará que pregue Seu Evangelho algum dia, se quer que você o faça. Ah, se Cristo desejasse, Voltaire, que O difamou, poderia ter sido um segundo apóstolo Paulo. Não poderia resistir à graça soberana, se Cristo assim o tivesse determinado. Se alguém houvesse dito ao apóstolo Paulo quando ia pelo caminho de Damasco, que um dia se converteria em um pregador do cristianismo, sem dúvida haveria rido disso como se isso fosse algo absurdo e sem sentido; mas o Senhor tinha a chave de sua vontade, e Ele a manejou como quis. E assim sucederá contigo, se Ele decidiu que você será um de seus seguidores:
Se, como o eterno mandato rege,A graça toda poderosa conquista esse homem,
A graça toda poderosa te conquistará e o mais sangrento dos perseguidores serás convertido no mais valoroso dos santos. Então, por que me persegues? Talvez esteja desprezando ao mesmo Salvador que um dia amarás; está tratando de derrubar a mesma casa que um dia há de edificar. Talvez esteja perseguindo os homens que chamará seus irmãos e irmãs. É sempre recomendável que um homem não vá tão longe, que logo não possa regressar respeitavelmente. Então, não vá tão longe a sua oposição a Cristo, pois em qualquer momento pode ser que se ache tão feliz em inclinar-se aos Seus pés.
Mas temos esta triste reflexão: se Cristo não te salva, você deve continuar. Você pode dar coices contra o aguilhão, mas não poderá ir dos Seus domínios; pode desferir coices contra Cristo, mas não pode tirá-lo de Seu trono; não pode arrastá-lo para fora do céu. Poderá dar coices contra Ele, mas não poderá impedir que lhe condene no final. Você poderá rir Dele, mas com suas risadas não poderá evitar o dia do juízo. Poderá zombar da religião, mas todas suas zombarias não poderá eliminá-la. Poderás escarnecer do céu, mas todas os seus insultos não silenciarão nenhuma nota sequer das harpas dos remidos. Não, é o mesmo que dar coices ou não, não há diferença exceto para ti mesmo. Oh, quão insensato deves ser, posto que persiste em uma rebelião que é prejudicial unicamente para sua própria alma. Essa rebelião não causa nenhum dano a Ele, a quem você odeia, mas, se Ele quisesse, poderia detê-la, e se não a detém, pode vingá-la e a vingará.
Sente sua necessidade de um Salvador?
III. E agora concluo me dirigindo a certas pessoas, cujos corações já têm sido tocados. Sente esta manhã sua necessidade de um Salvador? Estás consciente de sua culpa por haver se oposto a Ele, e o Espírito Santo tem te dado a vontade de confessar seus pecados? Estás clamando: “Deus, tem piedade de mim, pecador”?
Então tenho BOAS NOTÍCIAS para você. Paulo, que perseguia a Cristo, foi perdoado. Ele disse que era o principal dos pecadores, mas obteve misericórdia. Tu também a obterás. E mais, Paulo não só obteve misericórdia, também obteve honra. Foi chamado para ser um honroso ministro do Evangelho de Cristo, e você pode sê-lo também. Se, arrepender-se, Cristo pode lhe usar para atrair outros. Surpreende-me quando vejo quantos dos piores pecadores tem se convertido em homens utilizados pelo Senhor. Vê John Bunyan? Está maldizendo a Deus. Sobe ao campanário e toca a campainha no dia de domingo, porque gostava de fazê-lo, mas quando a igreja está aberta, ele está jogando no pasto. Ali está no balcão do bar: ninguém ri mais forte do que John Bunyan. Algumas pessoas se dirigem para a igreja; ninguém lhes amaldiçoa tanto como John. Ele é o líder em todos os vícios. Se há um galinheiro para roubar, John é o homem. Se há alguma iniquidade para fazer, se foi feito algum mal na paróquia, não precisa adivinhar duas vezes, John Bunyan está por trás disso. Mas, quem é aquele que enfrenta um juízo perante o magistrado? Quem acabou de ouvir a poucos momentos atrás: “Se me permite sair da prisão hoje, vou pregar o Evangelho amanhã, com a ajuda de Deus”? Quem foi o que esteve encerrado doze anos na prisão, e quando lhe disseram que podia sair se prometesse que não pregaria, replicou: “Não, vou ficar aqui até que mofo cresça sobre minhas pálpebras, mas devo pregar e vou pregar o Evangelho de Deus, assim como tenho minha liberdade”? Pois esse é John Bunyan, o mesmo homem que amaldiçoou a Cristo outro dia. Um líder do vício se converteu em um sonhador glorioso, no próprio líder dos exércitos de Deus. Observem o que Deus fez por ele, e o que Deus fez por ele, fará por ti, se te arrependeres agora e buscar a misericórdia de Deus em Cristo Jesus.
Ele pode fazer, Ele quer fazê-lo, não duvides mais.
Oh, confio que estou me dirigindo a pessoas que tem odiado a Deus, mas que são, contudo os eleitos de Deus; que têm desprezado o Senhor, mas que são comprados com sangue; que tem dado coices contra o aguilhão, mas que a graça toda poderosa arrebatará adiante. Há algumas pessoas, não duvido que tenham difamado a Deus em Seu rosto, mas que algum dia cantarão aleluias diante do Seu trono; alguns que se tem entregado a luxúrias repugnantes, que um dia vestirão suas vestes brancas, e correrão seus dedos pelas cordas das harpas de ouro dos espíritos glorificados no céu. Que felicidade é ter tal Evangelho para pregá-lo a tais pecadores! Cristo é pregado ao perseguidor. Venha para Jesus, a Quem você tem perseguido.
Venha, e seja bem-vindo, pecador, venha.
E agora, pense comigo um momento outra vez. Vejo a probabilidade de ter poucas oportunidades para me dirigir a vocês sobre temas referentes as suas almas. Meu querido leitor, não acrescentarei nada, senão somente isso: “Não tenho evitado anunciar todo o conselho de Deus,” e tenho por testemunha a Deus, com quantos suspiros, lágrimas, e orações tenho trabalhado para seu bem. Milhares têm sido chamados, assim creio eu, desse lugar; entre vocês, dos que estou vendo, há um grande número de pessoas convertidas; de acordo com seu próprio testemunho têm tido uma mudança completa, e já agora não são mais o que eram antes. Mas estou consciente disso, que há muitos de vocês que tem vindo aqui, já quase por dois anos, que seguem sendo os mesmos que eram. Há alguns de vocês cujos corações não foram tocados. Algumas vezes choram, entretanto, suas vidas não foram transformadas; ainda se encontram em “laço de iniquidade e fel de amargura”.
Bem, senhores, se não voltar a me dirigir a vocês novamente, há um favor que lhes peço. Se não se voltam para Deus, se estão resolvidos a se perderem, se não querem ouvir minha reprovação nem se voltar para minha exortação, somente lhes peço esse favor; pelo menos me deixem saber, e permitam-me ter esta confiança, que estou livre do sangue de vocês. Creio que devem confessar isso. Não tenho evitado pregar sobre o inferno com todos os seus horrores, a tal ponto que riem de mim, como se sempre pregasse a respeito. Não tenho fugido de pregar sobre os temas mais doces e agradáveis do Evangelho, a tal ponto de dizerem que minha pregação se tornou afeminada, em vez de manter o vigor masculino de um Boanerges. Não tenho me esquivado de pregar sobre a lei; esse grandioso mandamento tem feito eco em seus ouvidos: “Amarás o Senhor teu Deus, e ame a seu próximo como a si mesmo.” Nunca temi os grandes, nem buscado seus sorrisos, tenho repreendido a nobreza como repreenderia ao camponês, e cada um de vocês a tempos tenho dado alimento diário. Eu creio que pelo menos isto se pode dizer de mim: “Aqui está um que jamais temeu o rosto de um homem,” e espero não temê-lo nunca. Em meio das afrontas, das reprovações e das críticas, tenho buscado ser fiel a vocês e ao meu Deus. Se apesar disso são condenados, permitam-me ter isso como consolação por sua miséria, quando pense nesse pensamento aterrorizador: que não tem sido condenados por não haver sido chamados; não ter sido condenados por falta de alguém que chorasse por vocês, e não ter sido condenados, permitam-me acrescentar, por falta de orações por vocês.
No nome Daquele que julgará vivos e mortos de acordo com o seu Evangelho, e que virá nas nuvens do céu, e por aquele temível dia quando os alicerces desta terra forem abalados, e quando os céus desabarem sobre vossas cabeças, por esse dia quando “Apartai-vos de mim malditos,” ou “Venham benditos,” deva ser a alternativa terrível, lhes exorto, guardem estas coisas em seus corações, e assim como eu vou enfrentar a face do meu Deus para prestar contas por minha honestidade para com vocês, e por minha fidelidade para com Ele, lembrem-se, vocês deverão comparecer em Seu tribunal, para prestar contas de como ouviram e como reagiram após ouvirem; e, ai de vocês se, tendo grandes privilégios como Cafarnaum, sejam abatidos como Sodoma e Gomorra, ou mais abaixo que elas, porque não se arrependeram.
Oh, Senhor! Torna estes pecadores para ti, por Jesus Cristo, nosso Senhor! Amém.